domingo, 4 de dezembro de 2016

Por que precisamos fazer as pazes com a comida

Estratégia da nutrição comportamental busca, por meio de mudanças de comportamento, tornar menos conflituosa a relação com a comida e promover maior adesão a uma alimentação saudável


Se assumimos um casamento com a comida antes mesmo de nascer, em contrato de "até que a morte nos separe", não faz sentido que essa seja uma relação conflituosa, de neurose, fobia e angústia. Ao acreditar que é preciso retomar o prazer em comer e incentivar nutricionistas a adotarem técnicas mais eficientes que guiem as pessoas rumo à tomada de consciência sobre a relação que estabelecem com a alimentação, foi lançada no Brasil a estratégia Nutrição Comportamental.

Segundo a iniciativa, idealizada pelo Grupo Especializado em Nutrição, Transtornos Alimentares e Obesidade (Genta) e a Equilibrium (empresa com foco em comunicação em saúde e nutrição e qualidade de vida corporativa), ambos de São Paulo, existe um paradoxo de que, quanto mais tipos de dietas surgem, mais os índices de obesidade e sobrepeso crescem. Um dos motivos seria porque a capacidade de o paciente aderir a uma orientação alimentar tem sido prejudicada pela falta de atenção ao comportamento que ele tem em relação à comida.
Para Cynthia Antonaccio, nutricionista fundadora da Equilibrium, a alimentação diz muito sobre quem nós somos, o que vivemos e nossas experiências prévias:
— Por isso o nutricionista precisa de habilidades de comunicação para enxergar essa pessoa como um ser holístico, que tem medos, históricos, relacionamentos difíceis.
No mundo todo, 39% das pessoas com mais de 18 anos estão acima do peso, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A nutricionista Marle Alvarenga, mestre e doutora em Nutrição Humana Aplicada pela Universidade de São Paulo (USP) e uma das coordenadoras do Genta, pensa que esse cenário não vai mudar enquanto as pessoas continuarem adotando dietas restritivas e de prescrição do tipo "faça isso", "não faça aquilo".
O conceito não é exatamente novo. Com larga experiência no tratamento de transtornos alimentares, em que o pode ou não pode é ineficaz na conduta, Marle e Cynthia perceberam que algumas estratégias poderiam ser usadas com outros pacientes e, dessa forma, aumentar a adesão deles a um comportamento saudável mais duradouro.
— O nome (nutrição comportamental) não é exatamente uma criação nossa, mas não aparecia no Brasil dessa forma. Então, algumas pessoas vão se identificar com as técnicas. O que ocorre é que a gente resolveu trabalhar com isso de uma forma mais sistematizada — afirma Marle.
Por isso, o movimento já fez um simpósio no ano passado e se encaminha para o segundo, em 14 e 15 de agosto, em São Paulo, voltado para profissionais da nutrição. Um livro também será lançado até o mês que vem.
A vice-presidente do Conselho Regional de Nutricionistas do Estado (CRN2), Carmem Kieling Franco, também concorda que trabalhar com escolhas junto ao paciente tende a aumentar muito a adesão.
— Nós, do CRN2, entendemos que isso é uma estratégia muito válida e que, via de regra, tende a ser duradoura. Mas temos compreensão de que alguns públicos precisam de estratégias diferentes — pondera, em relação a pessoas que apresentam doenças que dependem de restrições, do "pode e não pode".
O prazer em comer
Imagine aquele pedaço de bolo na comemoração do trabalho, o brigadeiro que só a avó faz ou aquela iguaria típica encontrada na viagem de férias. O que a Nutrição Comportamental prega é que ninguém precisa sair correndo quando dá de cara com esse tipo de delícia. Nem sentir culpa por saboreá-las.
— Nos preocupa muito que a comida se tornou um problema para as pessoas. A gente vai ter de comer até o último dos nossos dias, é preciso que se tenha uma relação adequada com isso — diz Marle.

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Para Carmem, ninguém precisa chegar ao ponto de levar o próprio lanche para um evento, por exemplo:
— Na hora da festa, é pensar o que escolher, o quanto comer.
E isso tudo se trabalha a partir do comportamento, de tentar entender os sinais internos do corpo, o chamado comer intuitivo, um dos pilares da Nutrição Comportamental.
— Comer com atenção plena é saber conhecer os sinais internos de fome e saciedade. Dessa maneira as pessoas começam a pensar no alimento, além das calorias. A autopercepção também é permeada pela sensação do que lhes faz bem ou mal, o que meu corpo pede em um dia frio ou quente, a quantidade que ele precisa quando gastei mais ou menos energia — explica a nutricionista Fernanda Timerman, também coordenadora do Genta e idealizadora do movimento.
Classificação inadequada
Uma grande preocupação dessa linha trata das classificações e listas de alimentos saudáveis ou não, bons ou maus, proibidos ou liberados. Tudo tem de ser pensado individualmente, apostam as especialistas.
— Incomoda esse olhar de hoje para a comida em que as pessoas estão neuróticas, e existem profissionais que fazem essa classificação entre saudáveis e não saudáveis, entre pode e não pode. Existem publicações da Academia Americana de Nutrição dizendo, textualmente, que é errado classificar os alimentos em bons e ruins — ressalta a nutricionista Marle Alvarenga.
A nutricionista Desire Coelho, com experiência em nutrição esportiva, lembra que, nessa nova era fitness, todos querem emagrecer e tem aumentado os casos de transtornos alimentares. Desse modo, a abordagem comportamental permite entender as necessidades de cada pessoa e, se necessário, indicar algum suplemento ou dieta mais prescritiva, saber como orientá-la sem correr o risco de agravar um quadro de risco:
— Sabemos que são raros os atletas que precisam de suplementos ou uma dieta mais restritiva. O importante é saber como abordar cada tema, é um acompanhamento totalmente individualizado.
Fonte: http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/vida/noticia/2015/07/por-que-precisamos-fazer-as-pazes-com-a-comida  
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